Excesso de partidos
"Algumas
questões e argumentos no Brasil são desmoralizados pela repetição
verborrágica sem uma correlação de fato. Uma delas é a ladainha do
excesso de partidos, a que algumas pessoas costumam se referir como
meras
“siglas partidárias”.
Que
existe excesso, todos dizem; por que isso é ruim todos repetem que é por
causa do excesso. Quando explicam as razões, a argumentação enfraquece a
defesa. O principal fundamento seria a confusão ideológica gerada
nos cidadãos, além de venderem alguns minutos no horário de televisão
nas campanhas eleitorais.
Não
existe prejuízo com excesso de ideologias porque são poucos os filiados
capazes de entender o significado de ideologia. Menos, ainda, são
aqueles com capacidade de fazerem uma associação entre sua posição
ideológica
e aquela adotada por um partido político.
Quanto
à venda do tempo, também não se sustenta, pois se resolveria se não
houvesse os “receptadores”, numa disputa típica de um leilão.
Ainda
nessa linha de distância entre filiados e partidos, muitos são filiados
sem sequer terem conhecimento de que o são. Por isso, ainda é comum se
detectar a duplicidade de filiação na Justiça Eleitoral.
Esses
argumentos são insustentáveis, a não ser para bancar salários de
“analistas políticos” e encher o peito de políticos sem outra coisa
importante para dizer. Mas não faltam razões que justifiquem a
insignificância
dos partidos brasileiros.
Uma
primeira seria a ausência de uma atuação política de fato. As
agremiações partidárias limitam-se exclusivamente à escolha de
candidatos a cargos eletivos. Não realizam nenhum trabalho de
conscientização política
nem de cidadania. Entregam candidatos sem nenhuma capacidade de gestão,
e cobram voto consciente do cidadão. Não é sem razão que a corrupção
grassa de ponto a ponto deste país.
Os
filiados servem apenas de número e não participam de atividade nenhuma.
Quando são chamados a participar, limitam-se a legitimar escolhas já
feitas pelos caciques. É assim com a escolha de todos os candidatos.
Além
de não estimular a participação dos seus integrantes, os partidos são
verdadeiros fantasmas. Pouquíssimas pessoas sabem como são estruturados,
como se organizam, muito menos conhecem o endereço de um deles.
Esse anonimato decorre, inclusive, da falta de cobertura da mídia, dos
institutos de pesquisas, que só falam de partidos em época de eleição.
Indaguem a alguém para que serve um partido.
Até
mesmo os sítios dessas instituições não trazem nada de interesse
coletivo. Os textos constituem-se em autoelogios, ou críticas
deliberadas aos adversários, num padrão “botequim de esquina”.
De um
mal gigantesco nenhum brasileiro escapa: os partidos são sustentados
pelo Fundo Partidário, um repasse constitucional de dinheiro público a
pessoas jurídicas de direito privado. Essa transferência automática
mereceria um questionamento sobre a sua constitucionalidade, já que não
há um elo lógico entre os interesses de um partido com o interesse
público ou coletivo.
Definitivamente,
os partidos são ruins por seus próprios equívocos, por falta de
atuação, por falta de clareza sobre os fins para que são constituídos. O
Brasil não tem boas lembranças do bipartidarismo. Pelos
argumentos utilizados, não faz a menor diferença de que eles sejam
duzentos ou apenas dois."
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em Direito
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